Uma pelotense vem chamando a atenção no trânsito de Curitiba. Habilitada há sete meses, a administradora Débora Corrêa dirigiu sozinha pela primeira vez na última segunda-feira (6). Ainda sem prática, ela colocou uma placa no carro alertando aos demais motoristas sobre sua estreia. "Sou recém-habilitada. Agradeço a paciência!"

A missão de Débora era simples, mas muito importante: buscar o filho Guilherme na escola. O marido, o bancário Gabriel Xavier, estava em São Paulo por motivos profissionais. Sem querer apelar para táxis, Uber ou transporte público, ela tomou a decisão de enfrentar o trânsito na capital paranaense. Inflou o peito, aprontou-se para sair e... Pegou a caneta.

O primeiro passo foi mesmo o cartaz. O aviso bastante objetivo pedia apenas a colaboração dos condutores, que hoje em dia cultivam tão pouco a empatia, seja em Curitiba ou em qualquer outro lugar. Uma questão de segurança, como ela mesma define. "Temos ruas muito íngrimes aqui perto de casa, são muitas ladeiras. Eu queria que a pessoa de trás soubesse que eu não tenho prática. Não custa avisar", conta.

Um desafio de cinco quilômetros
A administradora colou a plaquinha, girou a chave e saiu da garagem. Como já esperava, apagou o carro logo em seguida, em uma das subidas durante o percurso. Foi quando percebeu que tomou a atitude correta. "Tinha um senhor de idade logo atrás de mim. Ele deu ré imediatamente por precaução. Depois desviou de mim, baixou o vidro e fez um sinal de positivo. Aquilo me deixou muito tranquila", diz Débora.

A atitude do condutor foi o primeiro dos incontáveis incentivos que ela recebeu durante o trajeto. Com mais confiança, a motorista de primeira viagem, literalmente em sua primeira viagem, chegou ao destino sem deixar o carro desligar mais nenhuma vez e levou o pequeno pra casa em segurança. "Eu tinha medo que as pessoas fossem fazer vídeos e rir de mim por causa da placa, mas não. Foi ao contrário. Recebi apoio de muita gente. Sobrou empatia."

Na terça, Débora voltou a dirigir. Mais uma vitória pelas ruas íngrimes de Curitiba. Mais tranquila, aproveitou os "joinhas" pelo caminho e desfilou sua mensagem, reconfortante para os menos experientes.

Que sirva de inspiração
Débora e o marido moram há quase sete anos em Curitiba. Ela tentou tirar a carteira a primeira vez em 2008, ainda em Pelotas. Não deu. Só conseguiu a permissão no Paraná.

A pelotense acredita que o grande problema a ser enfrentado nas ruas é justamente o que deveria ser uma solução: ser prudente. "Em uma via de 40 quilômetros por hora, eu ando a 40. O pessoal que dirige há mais tempo corre, anda muito estressado. Eles têm tendência a achar que os certos estão errados. Por isso tem que colocar cartaz no carro mesmo, sem ter vergonha", defende.

Depois de compartilhar no seu perfil pessoal do Facebook a conquista de guiar o carro sozinha pela primeira vez, ela recebeu muitas mensagens. A maioria veio de pessoas que deixaram de dirigir em função de xingamentos no trânsito, ou ainda de quem não tem coragem de enfrentar o volante sem auxílio. O cartaz de Débora, simples e objetivo, foi também libertador. "Eu penso que posso ter encorajado muita gente. Nunca imaginei receber tanto carinho. Vou seguir dirigindo e vou manter a minha plaquinha até me sentir totalmente segura. E espero ver mais pessoas fazendo o mesmo para vencer os medos."

A repercussão não ficou apenas nas mensagens recebidas. A ideia virou notícia. Alguns portais - como O Globo, Gazeta do Povo e Extra - contaram brevemente a história, que viralizou com facilidade.

A cada sinal de positivo, a cada sorriso, a "recém-habilitada" vence as curvas e subidas de Curitiba inspirando novos condutores. O marido, orgulhoso, aprova a iniciativa. O filho, faceiro, só quer saber de passear com a mãe - e com o lhasa apso Nestor.

Por último, mas não menos importante, o cartaz - principal instrumento de incentivo e segurança - passa bem.